Crónicas Barcelonistas 26 - Pobres moças

18 de setembro de 2004

Estava num daqueles dias que não me estava nada a apetecer ficar fechado à noite no assim saí da Nestlé em direcção ao apartamento mas apenas para ir trocar de farpela. Poucos minutos depois já estava no autocarro 63 da TMB (que é a carris cá da zona) a caminho do centro de Barcelona, para mais uma incursão exploratória. Desta vez resolvi ir em busca de um dos cinemas com V.O., ou seja que não passa os filmes dobrados em castelhano mas sim na língua original do próprio filme. Munido de um papel com o nome da a rua do cinema, lá saí do Autocarro na Avenida Diagonal perto do ElcorteInglês. Segundo as informações recolhidas junto a uma das catalãs que trabalha comigo, era mais ou menos naquela zona que ficava o Cinema Renoir. Comecei a andar pelas ruas tentando seguir o melhor possível o caminho que me tinha sido indicado, mas o raio do cinema ficava numa daquelas ruas bastante escondidas e que estão sempre a fugir. Assim tive ainda que perguntar a uns Catalão-o-transiuntes onde ficava o raio do Cinema. Finalmente lá encontrei o dito Renoir e as suas 6 salsas. Pode-se dizer que este cinema é assim como que o cinema King aqui do Burgo. Mal cheguei comecei a observar que filmes estavam em cartaz, mas, ora bolas, as sessões eram todas por volta das 20:30 e já eram quase 21:00. Como as próximas sessões eram muito tarde, resolvi desistir de ir ao cinema nesse dia. E como a fomeca já apertava, que tal umas tapas para aconchegar o estômago? Umas ruas abaixo lá estava um restaurante com bom aspecto. Entrei, sentei-me numa mesa e quando apareceu o empregado caí na asneira de lhe pedir algumas sugestões, e já vão ver porquê é que eu digo “caí na asneira”. Comecei por um pratito de presunto pata negra e depois seguiu-se mais um duma especialidade daqui da zona, os polvitos, que são polvos guisados, mas polvos muito muito pequenos. No fim e para acabar foi um pratito de queijo, e já está. O pior foi depois a conta. Depois de receber a conta, dei uma vista de olhos para ver em quanto tinha ficado o estrago e....xiça. O prato de polvitos tinha custado 20€.... vocês não estão bem a ver a coisa. Aquilo eram aí um prato no máximo com 8 polvitos minúsculos, cada um cabia na toca de um dente, por isso, e fazendo as contas ficava aí a 2,5 euros cada polvito, sim 500 paus por cada polvo cujo comprimento não era maior que o de uma petinga.... Bem, se dividir o preço pelos tentáculos, sempre posso dizer que comi 64 tentáculos por volta de 0,3 cêntimos cada, até que não é caro, o que é que é 0,3€ nos tempos de hoje. Depois de fazer estas contas lá fiquei um pouco mais descansado, é que temos que arranjar assim uns estratagemas para nos ajudar a digerir a conta, sim que os polvos esses quando acabei de comer o queijo, de certeza absoluta que já estavam digeridos. Como já se fazia tarde e não me estava a apetecer ir de autocarro para casa, resolvi apanhar um taxi, um dia não são dias. Foi então que o inesperado aconteceu. Apanhei um taxi numa rua perto do restaurante e este no seu percurso passou junto ao Estádio do Barcelona. Então, quando o taxista “se quedava”, perdão, parava num semáforo, e para meu grande espanto, vejo umas singelas meninas ali mesmo no meio da rua àquela hora da noite junto ao Estádio. O que me chamou ainda mais a atenção foi roupa que traziam, ou melhor dizendo, a roupa que não traziam. Uma das raparigas estava quase nua, somente com um fio dental e umas botas de cabedal branco até aos joelhos. Provavelmente aquelas raparigas tinham sido roubadas, coitadinhas, e a uma delas pelos vistos inclusive até a roupa lhe tinham roubado. A pobre rapariga estava para ali no meio da rua a gesticular fazendo uns gestos chamativos para a sua incomoda situação, apontando para os seios desnudados provavelmente a dizer, “ajudem-me vejam o que me fizeram”, depois apontava para o fio-dental quem sabe a tentar demostrar “só me deixaram isto, vejam bem”. Ou será que as miúdas também tinham ido comer polvitos a algum restaurante e porventura não tinha tido dinheiro para pagar a conta, tendo que deixar a roupa no restaurante como forma de pagamento? Quem sabe. Com o meu espirito de bom samaritano ainda pensei ajudar a rapariga dando-lhe boleia, mas como não estou no meu país deixei isso para os conterrâneos da pobre moça. Ainda estava para pedir ao taxista para dar mais uma volta ao estádio para ver se entretanto alguma alma caridosa já a tinham ajudado, mas como já se fazia tarde e no outro dia era dia de trabalho, achei melhor não. Assim como assim, já tinha dado à pouco 30 cêntimos a um pedinte pelo que a minha boa acção da semana já estava feita.

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