Crónicas Barcelonistas 23 – El Matrix

27 de agosto de 2004

Bem isto aqui no apartamento em Barcelona é uma diversão pegada. Nem queiram saber. Quando não saio para ir dar uma volita pela cidade e fico aqui no apartamento é sempre uma animação danada. Agora que já cortaram a RTP internacional vá-se lá saber porquê, tive que me voltar para os canais locais. A televisão aqui está sempre a dar bons programas, principalmente os canais Catalães, é que como não os percebo, sempre posso imaginar que estão a falar de coisas interessantes como dos problemas internacionais, do terrorismo, da fome do mundo, de cultura e deste género de coisas. Está bem que as apresentadoras destes programas de seios voluptuosos quase a saltar da parca roupa que trazem vestida não levariam a semelhante conclusão, mas como não percebo quase nada do que dizem não posso fazer semelhantes juízos de valor. Quem sabe aquelas meninas não são um poço de cultura e estão a fazer entrevistas com uma profundidade tão grande como a dos seus decotes. Os entrevistados que aparecem com grandes caras de parvos e de cabelo cheio de gel, poderão ser, quem sabe, grandes cientistas e pensadores daqui cá da zona. Se calhar colocam o nosso Professor Marcelo a um canto.
De vez em quando lá apanho uns filmes porreiros. No outro dia lá passou o Matrix, dobrado em castelhano claro está. Bem se fosse em catalão era pior. Então lá assisti quase incrédulo a uma conversa entre Leo e Morfeu onde este lhe explicava o que era a Matrix. Conforme o filme se foi desenrolando eu mal esperava pela conversa do Leo à Oráculo, como ficariam em castelhano por exemplo a frase “You can't see boyond a chance you can't understand”, e a tradução das frases de Morpheus como “Don't think you are. Know you are”. Mas infelizmente não consegui aí chegar a ouvir. Adormeci. Acordei com uma terrível dor de costas. Raios partam não me posso deixar adormecer em posições esquisitas no sofá. Uma coisa é certa se calhar até vou comprar uns Dvd’s em castelhano, aquilo para ajudar a adormecer é um espectáculo.

Crónicas Barcelonistas 22 - Luis Da Silva

22 de agosto de 2004

Lá fui a mais uma aula de salsa aqui em Barcelona. Mal cheguei à porta o professor para meu duplo espanto disse logo num perfeito Português “Ainda bem que regressou, desde que veio para a nossa escola que o número de alunas não parou de aumentar. Agora que esteve de férias elas não param de perguntar quando regressa o grande bailarino português Luis Da Silva”. Agradeci muito espantado e lá entrei na sala de aulas. As garotas, incluindo a professora lá estavam muito sorridentes, e meteram logo conversa comigo, os restantes rapazes da turma é que não gostaram nada da conversa, mas que culpa tenho eu dos Tugas serem mui mais charmosos que os Catalães. Também a falarem naquela língua de trapos não é de admirar. Lá começamos as aulas, entretanto fora da sala estavam umas dezenas de raparigas acotovelarem-se umas às outras e a olhar para dentro da sala a cochicharem uma com as outras, de vez enquanto apanhava uma palavra ou outra mas a palavra mais ouvida era a de “Luis Da Silva”. Isto é que é, finalmente o meu mérito reconhecido, é preciso uma pessoa ir dançar para um pais estrangeiro para vermos o nosso valor reconhecido. Bem a aula lá foi decorrendo com as chicas quase sempre engalfinhadas a tentar ultrapassarem-se umas às outras para irem dançar comigo. No fim ficamos na conversa um pouco e lá começou um ataque cerrado a pedirem-me o telemóvel, mas eu não dei não senhora, vão sofrer bastante até terem o meu contacto, mas pensam que os Português são fáceis ou quê. À saída estava uma limosine parada à beira da rua, mal me viram a porta abriu-se e um matulão que estava especado à porta da escola disse-me para o seguir até à limusine, embora um pouco desconfiado e até confuso lá o segui em direcção ao carro tendo dado uma espreitade-la para o seu interior mal a distancia assim o permitiu, lá dentro estava o meu grande amigo príncipe Filipe sentado que fez um enorme sorriso de alegria ao ver-me aproximar, “Luis Da Silva” que prazer em rever-te, então como vai isso?” – disse ele. Na mão tinha uma garrafa de Cava (Espumante Espanhol) pronta a abrir. Conforme fui entrando verifiquei que o meu amigo Filipe não estava sozinho, no banco em frente ao banco onde se encontrava sentado e de costas para o banco do condutor, que não se via devido ao vidro escuro que nos separava da parte da frente da limisone, estavam duas louras deslumbrantes, uma vestida de vermelho e outra de lantejoulas pretas ambas com vestidos bastante justos ao corpo e cada uma com o decote maior que a outra, as saias dos vestidos eram compridas mas umas com enormes rachas até.. até onde a vossa imaginação (dos homens claro) permitir. Entrei e sentei-me confortávelmente e estava a dar um caloroso aperto de mão ao príncipe quando nisto voo um galo que poisou mesmo em cima do “frapé” do champanhe, perdão, da cava. Um galo, mas de onde raio veio o galo. Depois de alguns momento de confusão e desorientação lá acordei... era o raio do despertador que tenho no telemóvel que estava a tocar com o som do galo. Já ando à que tempos para mudar aquele maldito som do despertador/telemóvel . Qualquer dia atiro o galo, perdão o despertador, perdão o telemóvel pela janela fora. Bem lá me levantei e fui tomar o duche matinal antes de ir trabalhar para a Nestlé. Afinal as aulas de salsa aqui até já acabaram. “Bolas” – pensei eu antes de entrar na banheira e já com a imagem das louras a esfumar-se – “maldito galo, bem podia ter aparecido mais tarde”.

Crónicas Barcelonistas 21 - Regresso de Férias

18 de agosto de 2004

Pois, lá se acabaram as férias. Depois de umas fériasitas lá recomeçaram as viagens de avião. Parece que anda tudo ao contrario, antes andava de avião quando ia de férias agora ando de avião quando não estou de férias. Na segunda feira lá me apresentei ao serviço revigorado e pronto para trabalhar. Entrei na sala e qual não é o meu espanto quando vejo a sala completamente vazia. Será que me enganei e era feriado nacional na Catalunha? Ou será que me queriam pregar alguma partida. Ainda estava a ver se aparecia alguém de traz dos armários a dizer “surpresa” mas em castelhano claro, mas não. Não estava mesmo ninguém na sala. A sala onde costumam estar mais de 20 pessoas a trabalhar estava completamente vazia. Estes Espanhóis não brincam em serviço, quando dizem que vão de férias vão mesmo. Lá montei o meu estaminé (ou seja o meu PC portátil) e lá me preparei para iniciar mais uma semanita. Verifiquei se tinha e-mails com “instruciones” de que deveria fazer, mas somente uns e-mailesitos com informação diversa, mas sem nada em concreto sobre que fazer. “Bonito serviço”, pensei eu, então e agora que é que vou fazer. Bem lá comecei a ler mais uns manuais de SAP, mas aquilo, ainda por cima ali sozinho, dava cá uma soneira, assim para não adormecer vali-me das novas tecnologias, ou seja de vez enquanto navegava um pouco na Net e ia enviava uns e-mails pró pessoal. Agora sim podia navegar à vontade sem ter nenhum mirone atrás de mim a ver o que estava eu a fazer e a ver as páginas de Net que frequento. Não quer isso dizer que as páginas da Net sejam impróprias, essas vejo eu em casa... quando digo impróprias digo impróprias para o trabalho claro, seu depravados. Mais tarde lá apareceu o chefe mor cá da zona para ver quem estava na sala. Foi a primeira vez que gostei de o ver, pois sempre interrompeu a monotonia onde estava mergulhado – “Olá Luis enton essas férias” lá começou ele a tentar falar Português para me agradar. Bla, bla, bla, e lá fizemos uma conversazita de circunstancia como apanágio nestas ocasiões, e lá se foi embora.
De vez enquanto lá ia beber um cafézito noutros pisos na esperança de ir encontrando alguns desgraçados que como eu tivessem vindo trabalhar antes do fim de Agosto, mas quase não se via vivalma, parecia um prédio fantasma, não havia quase ninguém. Pirei-me por volta das 5 da tarde que já estava farto daquilo. Na paragem de autocarro lá parou mais um carro a perguntar-me o caminho para a A2 cá da zona. Sim eu disse mais um, leram bem, é que não sei o que se passa mas o pessoal que anda por aqui perdido acho que resolveu todo fazer-me perguntas sobre direcções e indicações da cidade. É que é uma coisa impressionante, é rara a semana que não haja alguém a pedir-me alguma indicação. “Para ir para a calle (rua em espanhol) X.P.T.O por favor”, devo ter mesmo cara de quem é conhecedor da zona, mal sabem eles que tomara eu saber muitas vezes por onde ando eu quanto mais dar informações aos outros. Mas é claro que como qualquer homem que se preze, nunca digo que não sei, tento sempre ser prestável, principalmente se for uma chica, e dar um ar de quem percebe da coisa. Faço um ar pensador como quem está a pensar onde ficará a dita zona que perguntam, e lá dou a indicação de mais ou menos onde eu acho que ficará localizada a zona pretendida. É provável que a indicação seja completamente errada mas um homem nunca diz que não sabe onde fica um local, mesmo numa cidade estrangeira, e de facto a convicção com que algumas vezes dou as informações até deve dar um ar de “viemos ter com o gajo correcto, é este fulano que nos vai indicar o bom caminho”. Claro que as chicas vêm perguntar-me estas informações só para meter conversa, mas enfim eu já nem ligo. Resumindo já foram para aí 2 dezenas de pessoas a pedir-me informações e o entranho é que ainda nenhuma de perguntou onde era a Avenida Obliqua essa Avenida tão conhecida em Barcelona, porque será?

 
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