14 de setembro de 2004
Porreiro, estava tudo a correr bem, era quinta feira e lá ia eu de novo a Portugal. O Avião da TAP estranhamente até ia partir a horas e tudo. Desta vez o Avião estava à pinha, parecia o 51 da Carris em hora de ponta, só faltava mesmo pessoal de pé agarrados aos locais mais improváveis, aos solavancos de um lado para o outro, a partilhar alegremente os odores “sovacais” uns dos outros. Os últimos passageiros a entrar tiveram que meter as malas de mão quase à cabeçada nos porta malas que ficam em cima dos bancos, pois estes já estavam a rebentar pelas costuras. Depois das últimas malas terem sido literalmente entaladas à força nos últimos centímetros disponíveis, lá conseguiram finalmente as hospedeiras fechar os compartimentos das malas. Eu entretanto observava calmamente sentado todas estas atribuladas movimentações e depois de ter visto a dificuldade com que alguns dos compartimentos tinham sido fechados, logo começou a crescer dentro de mim uma esperança de que um daqueles porta malas pudesse não aguentar tamanha pressão. E que eventualmente pudessem estourar de tal forma que as bagagens do seu interior saíssem projectadas pelo corredor do Avião a fora, espalhando assim alguns os pertences mais íntimos de alguns passageiros pelo chão fora. Digam lá , não era um espectáculo digno de ver. E se fosse a minha mala? Não se preocupem só coloco no porta malas o Portátil do trabalho, e o mais importante que lá está são as cónicas Barcelonistas, mas como faço regularmente uma segurança destes precioso documentos, não havia problema.
Caso eventualmente aquilo não cedesse poderia dar eu uma ajuda no aliiar da dor de pelo menos um daqueles compartimentos, é que sou mito sensível e não gosto de ver ninguém sofrer, nem mesmo um pobre porta malas de avião.
Enquanto estava eu nestes pensamentos profundos, o Avião iniciou a descolagem do Aeroporto de Barcelona rumo a Lisboa. O Nuno, que ia ao meu lado, tinha acabado entretanto de encher a sua agronómica e insuflável almofada de viagem que colocou à volta do pescoço. Aconchegou-se e resolveu passar pelas brasas. Minutos depois do Avião ter levantado voo e como o raio dos compartimentos das malas continuavam a resistir heroicamente à sobrecarga de bagagens, resolvi também eu tirar uma soneca até chegar a hora do lanche.
Estava já eu a roncar profundamente, fazendo de certeza concorrência ao barulho dos motores do A310 da TAP, quando levo uma bruta cotovelada do Nuno. Acordo e “está na hora das sandes” pensei. Já ia preparado para abrir a mesinha do meu lugar quando o Nuno me diz – “Houve”. Então lá estava o Piloto a dizer qualquer coisa parecida com isto: Srs. passageiros devido a uma avaria técnica somos forçados a regressar a Barcelona .Informamos que o Avião não fez correctamente a despresurisação e que não estamos a conseguir atingir a altitude necessária para entrarmos na velocidade de cruzeiro, pedimos muitas desculpas. ..bla...bla...bla”. Estava ainda meio estremunhado daquele súbito acordar causado pela “subtil” e “suave” cotovelada do Nuno, pelo que fiquei um bocado apardalado. Lá ouvi a mesma cantilena do piloto mas agora em Inglês e Espanhol. Olhei para o Nuno e ele para mim. A primeira coisa que me veio à ideia foi, “porra, hoje que o avião até tinha partido a horas e eu ia chegar a tempo às aulas de salsa é que esta lata velha resolve avariar-se”, claro que depois veio-me outra ideia à cabeça. “Porra e se esta porcaria resolve “aterrar” antes de Barcelona”.
Entretanto eu e o Nuno lá começamos a conversar sobre o assunto e, para desoprimir o ambiente, o Nuno lá disse: “Ora Bolas, não devia ter enchido a almofada de ar, foi o suficiente para a falta de pressão no Avião”. Nesta altura o Avião já tinha dado a volta iniciando o regresso a Barcelona. Claro que com as explicações do Piloto estava tudo mais ao menos calmo, mas e suponhamos que a avaria era muito pior do que o Piloto dizia. Se fosse de facto uma avaria grava será que ele contar a verdade aos microfones? Estou mesmo a imaginar: “Srs. Passageiros, eu sou o comandante deste Avião e queria-vos informar de que o único motor que ainda funcionava no nosso Avião acaba de se avariar, aproveito também para dizer que o trem de aterragem está encravado e que perdemos a asa esquerda do avião. No entanto não se preocupem que estamos e efectuar todos os esforços possíveis por aterrar em segurança. Aproveito entretanto mais uma vez para agradecer o facto de terem escolhido a nossa companhia aérea, obrigado”.
O facto de efectuarmos estes voos com regularidade pelo menos têm o condão de nos darem mais alguma experiência e sangue frio nestas situações. Mas diga-se de passagem que nunca pareceu que a situação estivesse fora de controlo, ou então os gajos disfarçaram bem. No entanto havia alguns passageiros que mostravam já alguma inquietude e nervosismo pelo que o Nuno e eu resolvemos meter alguma água na fervura. “Não te cheira a queimado Luis?” “Sim, Nuno, de facto cheira-me a qualquer coisa”... Claro que ficamos por ali pois poderíamos ter que responder em tribunal por tentativa de homicídio a algum dos passageiro que viajavam junto a nos. O Senhor que ia no banco da frente já estava nomeadamente com um crucifixo nas mãos, o Nuno verificou que se tratava de um padre.
– “Bem” - pensei eu -“Pelo menos se isto correr mal já tenho onde confessar os meus pecados”. Não é que eu os tenha, mas há sempre alguma coisita ou outra a dizer, e se o avião se aguentasse mais uma horita no ar e eu aplicasse o meu extraordinário poder de síntese até que dava tempo.
Mais uns 10 minutos e o avião lá aterrou em segurança e sem nenhum problema. Ouvimos então mais umas palavritas de reconforto do comandante. Depois de mais alguns minutos de espera lá veio uma equipa de técnicos do Aeroporto averiguar se era possível reparar rapidamente a avaria do aparelho, e o facto é que meia hora mais tarde lá nos deram a noticia que iríamos reabastecer o Avião e que iraríamos recomeçar o voo para Lisboa. Aquilo tinha sido do tipo falsa partida, esta não valeu..., agora é que é...., ou vamos lá a ver se agora é que é.... Quando levantamos voo ainda estávamos à espera de retornar de novo a Barcelona, mas felizmente a caranguejola lá se aguentou, e o raio dos porta malas também.
Claro que todos estes contratempos chegamos a Lisboa quase 2 horas atrasados. Uma coisa é certa, acho vou pedir uma indemnização à TAP por danos Salseiros.
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