Crónicas Barcelonistas 7 - Secas

28 de maio de 2004

Já estou com saudades da TV Portuguesa, é bem verdade que nos últimos tempos não tenho visto muita, ou melhor dizendo praticamente nem tenho ligado a TV. Mas agora bem me a apetecia liga-la aqui e ver uns programas da nossa querida TV tuga. Até uns programas da TVI eu papava, bem pensando melhor, não exageremos, o desespero também ainda não chegou a tanto.
Aqui os programas que tenho visto são bastante interessantes, dá futebol e desporto às carradas, e é tudo em espanhol ou castelhano como queriam. O pior é quando está a dar um filme que até gostava de ver, é que todos os programas que não são Espanhóis são dobrados, incluindo os filmes claro. É divertidissimo ver o Robert De Niro ou a Angelina Jolie a falar Castelhano... bem... no entanto que fique aqui uma ressalva, o que a Angelina Jolie diz, seja dobrado ou não, é sempre interessante. Mas voltando ao assunto da TV, que séca, já não me chega ouvir o tagarelar constante em castelhano todo o dia no trabalho e nas ruas, também tenho que o ouvir na TV. Assim quando tenho muitas saudades da TV Portuguesa, lá mudo para a RTP Internacional, sempre se houve alguma coisa da nossa santa terrinha.
Aos poucos lá vou aprendendo mais uma e outra palavrita em Espanhol para utilizar no dia a dia, e quando não sei a palavra lá tento o Inglês para me fazer entender, e quando nem assim me safo utilizo o último recurso, a universal linguagem gestual. Por exemplo, ainda no outro dia para comprar um saca rolhas no supermercado tive que ir buscar uma garrafa (“botelha” em Espanhol *) para explicar o que queria comprar. O gesto é tudo. É verdade e falando de saca-rolhas. O tal objecto que não fazia parte da lista dos utensílios do apartamento, não é que no supermercado aqui da zona não havia saca-rolhas à venda, ainda perguntei onde haveria “tão estranho” objecto à venda nas redondezas, mas disseram-me logo que ali seria difícil. Mas este pessoal aqui não bebe pingola em casa ou quê, que atrasos de vida. Já não chega a seca que é ouvir a língua deles, ainda passo um outro tipo de seca. Lá vou ter que trazer um saca-rolhas de Portugal, enfim.
Alguns dias depois, fiz finalmente um pitéu aqui no apartamento, “Costeletas à lá Luis“ acompanhados de arroz e salada. O Nuno, meu colega de infortúnios aqui em Barcelona, aceitou servir de cobaia e corajosamente acedeu a degustar aquele autentico manjar dos deuses. Para acompanhar e como ainda não tenho saca-rolhas o que nos safou foi um tintól engarrafado numa embalagem de Tetra Pack que o Nuno entretanto tinha comprado.

* Nota para o pessoal da Nestlé - “Botelha” não é a esposa do Sr. Botelho da contabilidade hem. Nada de confusões.

Crónicas Barcelonistas 6 - Banhos e Banhadas

19 de maio de 2004

Fui até a uma piscina, que, a penantes, fica aí as uns 10 minutos do meu apartamento. Queria saber “horiarios” e “prieços” para a utilização de dita cuja. Assim, pedi algumas informações na “recepcion“, tendo ficado a saber que aceitam estrangeiros, mesmo tugas, mas que para efectuar o pagamento tem que se ter conta num Banco Espanhol, dinheiro à vista nem pensar, não me perguntem porquê. Vou ver como me vou desenrascar desta sem ter que abrir conta bancária por estas bandas, é que já me chegam os cartões Portugueses que tenho a encher a minha carteira. Embora pensando bem, fica sempre bem, aí em Portugal abrir a carteira e sacar de um Visa Espanhol, até dava estilo, aí é que as xicas tugas iam ficar impressionadas.
Ainda fui observar as instalações da piscina e os respectivos utentes, ou melhor dizendo, as respectivas “utentas”. Mas aquilo estava fraco, mais uma vez onde é que estavam as Espanholitas nadadoras, isto aqui pelos vistos de Bascas nas piscinas é mentira, bem devem estar à espera que eu me inscreva, aí é que vai ser, até vão fazer fila para ir para nadar no meu horário.
Bem, deixando de sonhar, lá saí eu da piscina. Resolvi ir jantar fora, afinal esta semana ainda não tinha comido fora do apartamento e estava a ficar um pouco farto dos meus cozinhados. É que ainda não comprei muitas coisas para cozinhar e assim os meus pratos têm-se limitado a uns enlatados e a umas sandochas. Mas para a semana isto vai mudar, vou começar a fazer por aqui alguns pitéus tugas. Isso se tiver pachorra, claro.
Como sabem o meu apartamento aqui em Barcelona fica nos arredores e não na própria cidade de Barcelona. Assim depois de sair da piscina lá fui eu à procura de um restaurante nas vizinhanças do apartamento, não me estava a apetecer ir para o centro de Barcelona só para Jantar. Lá comecei a minha busca por um restaurante, mas a minha procura foi infrutífera, depois de palmilhar uns bons quilómetros pelas redondezas, nem um restaurante aberto, nem restaurante nem nada, estava tudo fechado, aqui em redor do apartamento fecha tudo à 21:00 21:30 e já passava das 22 horas.
Que seca, ao fim de uma hora a devorar quarteirões, desisti. - Vou mas é mesmo ao centro de Barcelona para comer, ai há sempre restaurantes abertos até tarde - pensei eu , mas nisto passou um autocarro, o 63 cá da zona, que pára mesmo na rua do meu apartamento. Após uma breve hesitação, lá resolvi regressar, afinal já se estava a fazer tarde. No caminho fui pensando que poderia abrir uma garrafita de vinho que tinha comprado no supermercado local. Assim, sempre aconchegava a noite. Chegado ao apartamento lá foram mais uns enlatados, grão e atum, faltava a cebola e a salsa mas que se lixe, uns copitos de tinto até iam fazer esquecer isso. Mas porra, estava mesmo destinado a ser uma noite estragada em termos gastronómicos, não é que o raio do apartamento não tem nenhum saca-rolhas....

Crónicas Barcelonistas 5 - Inventário do Apartamento

13 de maio de 2004

Foi necessário fazer um inventário do apartamento que aqui estou temporariamente a habitar em Barcelona. Deram-me uma folha com uma porrada de itens que deveria conferir antes da Nestlé assinar o contrato. Assim daqui a uns meses, quando abandonar o apartamento, os itens têm de se manter no Apartamento e de preferência intactos. Como não percebia metade dos nomes dos objectos que estavam na lista, lá pedi para me ajudarem a traduzi-los, pelo menos para Inglês. Mas a coisa complicou-se com tantas traduções e retraduções. Assim Nuria, que me estava a tentar ajudar nessas traduções, disse que iria buscar um pequeno dicionário de Castelhano - Português. Era pressuposto (gosto muito desta palavra) eu poder levar o dicionário para o apartamento de forma a este me poder ajudar na identificação dos referidos objectos. O problema é que o dicionário de pequeno não tinha nada, ainda era maior que o manual do projecto que tenho estado a ler. Assim ela resolveu ajudar-me a traduzir alguns dos objectos para eu não ter que andar a acarretar um dicionário ai duns 5 quilos.
O inventário era impressionante, para além das panelas, copos, talheres, e outras coisas normais neste tipo de inventários, tem outras coisas mencionadas que não lembra nem ao diabo, senão vejam: Candeeiros, Cama, Mesas de Cabeceira, Roupeiro, Ar Condicionado e até a Maquina de Lavar Louça e o Frigorifico que são encastrados. Estes gajos são desconfiados hem. Estou mesmo a ver-me, de frigorifico às costas a passar na Alfândega e o guarda da Alfândega a perguntar... Têm algo a declarar senhor?
Até me admira não estarem no inventário os 2 rolos de papel higiénico que se encontravam na casa de banho quando cheguei. Pelos vistos a fama dos Portugueses é grande.
Mas agora pensando melhor, o Roupeiro até que me dava jeito, com as obras na minha casa nova em Portugal, o roupeiro ficava a matar no meu quarto, e aquilo desmontado às peças... Ao fim de 8 meses já tinha o roupeiro todo em Portugal. Bem de facto será um assunto a rever mais cuidadosamente.
No dia seguinte a Nuria lá perguntou se eu tinha feito o inventário.
- Sim está tudo, verifiquei cuidadosamente e estava tudo. - Disse eu. É claro que lhe dei a folha conforme a tinha recebido, nem a tinha tirado da pasta Penso que ela deve ter desconfiado ao ver que eu não tinha nenhuma marcação na folha, nem um visto nem uma marca qualquer em cada item que indica-se a minha inventariação. Mas também não teve coragem de me dizer nada, "mirou de nuevo lá enorme listita" e deve ter pensado - "é melhor estar calada, senão este tuga ainda me crava para lá ir ajudar a fazer o inventário, já me chegou aturá-lo a traduzir os itens".

Crónicas Barcelonistas 4 - Passeio na Obliqua a(Diagonal)ada

3 de maio de 2004

Sete horas, ai vai ele, pira-te que já chega de manuais e reuniões, que seca. Vamos lá curtir Barcelona city. Resolvi ir a pé deste as instalações da Nestlé até ao lugar mais próximo onde houvesse uma estação de metropolitano. Para isso, qual mapa qual quê, basta confiar no meu bom instinto de orientação, instinto esse bem conhecido e já comprovado por muito dos meus amigos. Assim, uns 50 minutos depois após um percurso ziguezagueante e diversificado, lá cheguei a uma estação de metro (“metrito” em Espanhol). Não era a estação de metro que inicialmente tinha como objectivo e que ficava, segundo os meus cálculos, ai a uns 15 minutos da Nestlé, mas era uma estação de metro e imaginem, até era em Barcelona, que mais queria eu.
Apanhei o metro e lá saí na Praça da Catalunha. Saí da estação para dar uma vista de olhos à Praça e por lá fiquei passeando durante mais algum tempo. Depois de ter passado por um posto de turismo, onde recolhi algumas toneladas de folhetos e mapas turísticos, lá sai por uma das ruas que passava pela Praça. Algum tempo depois ou alguns quilómetros depois, verifiqu
ei que já se estava a fazer tarde, estava na hora de apanhar o autocarro de retorno ao apartamento. Verifiquei no entanto que me tinha afastado do percurso que inicialmente pretendia fazer, não... não me tinha perdido, apenas tinha efectuado um desvio estratégico, ou como se diz, estava ligeiramente fora de rota. Tinha que voltar a uma Rua ou Avenida conhecida, mais central, onde novamente me pudesse orientar. Resolvi que o melhor era perguntar a um habitante local onde ficava a Avenida Obliqua, uma das avenidas mais importantes de Barcelona que é assim como que a nossa Av. da Liberdade em Lisboa... mas que é em Barcelona... e que não se chama Av. da Liberdade.. chama-se Aven...... ok, ok já vi que perceberam, continuemos. Então lá seleccionei simplesmente ao acaso uma Espanholita loura que por acaso até era engraçadita, mas foi tudo um mero acaso, claro. Então confiante lá perguntei
- Por favori para iri para la Avenidia Obliqua?”
- No intiendo - respondeu ela.
- Avenida OBLIQUA - falei eu mais pausadamente e num tom de voz mais alto.
- Nom conesco - Respondeu a fulana. Claro... o que é que eu estava a espera, perguntar coisas a uma mulher ainda para mais Espanhola e ainda por cima loura, enfim.
- AVENIDA OBLIQU..... - lá ia eu repetir de novo e ainda mais alto mas já sem grande esperanças de obter alguma resposta de jeito. Quando de repente me lembrei que por mero acaso poderia não ser Obliqua o nome da Avenida mas sim algo muito, muito, muito, parecido... Sim era isso.
- Avenida Diagonal por favor - disse eu.
- Há sin, la conesco, hes nesta direccione... bla bla bla... - lá respondeu finalmente a Espanholita apontando na direcção de onde eu viera anteriormente. Mas o que é que se passa com estas gaj... mulheres? Então não se via logo que eu queria dizer Diagonal? Estas mulheres são uma lástima, não sabem ler os pensamentos dos homens? Quantas Avenidas é que há por ai com nome geométrico? Não há pachorra.
Bem isto só para concluir que me vou ter de safar sozinho nesta cidade, solicitar informações às raças autóctones, pelo menos aos membros femininos, não me vai servir de nada.

 
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